Camoniana crônica moderna.



Cessem as glórias todas dessa gente
que ao nome Norte-América fez hino,
calem-se as trombetas do oriente
que exaltam o labor do povo chino,
que eu canto a força mística e contente
que por espanto encontra um bom destino.
Cesse tudo o que a musa antiga canta
que outro valor o trópico alevanta.

Não clamo às ninfas, tágides ou musas,
que fizeram o estro de outros cantos,
nem temo das sereias ou medusas
que me façam cativo em seus encantos,
pois sumo sou de todas essas cruzas,
sei a alquimia de pajés e bantos.
Preciso só cachaça e habeas corpus
para cantar aos vivos e aos mortos.

Pensam poetas outros de alta fama
que temas bons lhes cabe pra cantar,
julgam que Mao, que Churchil ou que Obama
merecem sem vacilo o seu altar.
Diante disso se enche e se inflama
meu peito com a voz a ecoar.
Cesse tudo contado em verso e prosa
que cantarei Renan, Dilma, Barbosa.

Pois tudo e todos nossa brava gente
com destemor enfrenta e não se abate,
mesmo que os céus, adversos e inclementes,
enviem crudelíssimos combates,
façam boiar cidades nas enchentes,
façam arder as casas e as boates.
Mas os prefeitos, no ardor da hecatombe,
já tratam de salvar o próprio nome.

E ainda assim, confiantes no destino,
que o otimismo a má-sorte logo enxota,
felizes frente ao mundo assumimos
a empresa da Olimpíada e da Copa,
e iniciamos de novo qual menino
que enrola, pois de longe não se nota.
E o mundo provará, de boca aberta,
que tudo dá errado na hora certa.

E o caso aquele nunca visto dantes,
(- louvada ao Parlamento a altivez!)
de que duvidam mesmo os mais confiantes,
e que enternece a ti, que em nada crês,
pois foi um episódio lancinante
que excede a bela história de Inês.
O caso Donadon, o perseguido,
que despois de ser preso foi ungido.

Até o grande irmão, que habita ao norte,
mas faz de todo o mundo o seu quintal,
a todos julga e dita vida ou morte,
e rompe as leis quando lhe caem mal,
sentiu estremecer seu estandarte
ao poderio que vinha do pré-sal.
E veio espionar a presidente,
botando-lhe olho gordo e impudente.

Contudo, não só glórias brotarão
deste estro candente que me agita,
canto a regra, mas também a exceção,
pois mesmo um povo honesto não evita
o jugo imoral de um Maranhão
por seu senhor, e o outro parasita.
Águas da mesma calha, cuja horda
no erário alegremente pinta e borda.

Mas com calma no andor, como diria
o esquartejador, que tudo parte,
se tanto existe a noite quanto o dia,
se tanto a natureza quanto a arte,
por certo há bonança e calmaria
para quem tanto vive no combate.
E calo, pois, mas pra tornar com verve,
pois só ao mal é que o silêncio serve.



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