As redes sociais e a crise da politica brasileira.



A internet e a globalização da informação trouxeram fenômenos importantes para a aldeia global marcada pela desigualdade econômica, política e social. Entre os quais, os protestos políticos contra governos e situações de iniquidade.

Presenciamos, há pouco, a “Primavera Árabe”, derrubando ditaduras e, também, os movimentos ocorridos no Brasil contra a política e os políticos. Protestos realizados, no caso brasileiro, em virtude da saúde pública precária, educação cara e ineficiente, meios de transportes públicos sucateados e de alto custo, desigual distribuição de renda e alto nível de corrupção no âmbito estatal.

Sejamos justos, o fenômeno da desigualdade afeta todas as nações globalmente. O prêmio Nobel de Economia, Joseph Stiglitz, refere no prefácio do seu, The Price of Inequality, que a desigualdade aumentou nos Estados Unidos. Isso se explicita na idéia dos 99% para 1%. Ou seja, os detentores do poderio econômico e político são apenas 1% da população. Os mercados, para Stiglitz, não tem funcionado como proclamam seus defensores. A eficiência – tida como grande virtude – não existe. A demanda não é igual à oferta e há muitas necessidades não satisfeitas no mundo, como a miséria e a pobreza. O mercado está menos eficiente e estável, há menor crescimento, o que coloca em perigo a democracia norte-americana, e resulta em deterioração na confiança na economia de mercado e na sua influência no mundo. Em conseqüência, o império da lei e o sistema de justiça também estão em risco, e até o sentido de identidade nacional está em perigo. A crise financeira global desencadeou uma nova consciência no sentido de que o sistema econômico norte americano não é somente ineficiente e não –estável, mas também é basicamente injusto. Isso vai contra a idéia que sempre se teve de que os Estados Unidos é um país no qual existe igualdade de oportunidades. Stiglitz enfatiza que o sentimento de fair play no mercado esta sendo corroído e transformando-se num estado de penúria moral coletiva. Em síntese, uma das conclusões do autor, é de que a política condicionou o mercado e os 1% que ocupam a parte superior da pirâmide são favorecidos às custas dos demais, ou seja, 99%.

É de se observar que se a crise em um país como os Estados Unidos é desta monta, o que sobra para nações com democracias frágeis e com o IDH- Índice de Desenvolvimento Humano baixíssimo como o Brasil: 85º no cenário mundial.

Não se pode discordar, portanto, do sociólogo espanhol Manuel Castells, segundo o Social Sciences Citation Index, o mais citado acadêmico no Mundo da área de comunicação, no sentido de que “o povo brasileiro não vai cansar de protestar” isto porque, segundo o mesmo, “os movimentos recentes colocam a dignidade e a democracia como meta, mais do que o combate à pobreza”. Penso que a indignação da sociedade brasileira é de cunho moral e clama pela reformulação de nosso conceito esgotado de “democracia representativa” [made in Brazil].

Gabriel Wedy

Juiz Federal, ex-Presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil [AJUFE] e da Associação dos Juízes Federais do Rio Grande do Sul [AJUFERGS/ESMAFE]



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