Juízes pedem que CNJ identifique varas desfalcadas



Embora elogiem a iniciativa do Conselho Nacional de Justiça em divulgar publicamente números sobre o trabalho de juízes e desembargadores, os juízes federais enxergam lacunas na interpretação desses dados. Essa é a razão pela qual quatro associações de juízes federais entrarão, nesta quinta-feira (30/7), com um pedido no Conselho para que os relatórios esclareçam que nem todas as varas contam com o número necessário de julgadores — o que se deve, principalmente, às convocações de tribunais e dos próprios conselhos de Justiça para que os magistrados trabalhem como auxiliares e assessores em funções judicantes ou administrativas.

É o que afirma o presidente da Associação de Juízes Federais no Rio Grande do Sul, o juiz federal Gabriel Wedy. Segundo ele, os números apurados têm ajudado os tribunais a gerir o volume de processos e a fazer planejamentos estratégicos, mas precisam ser mais detalhados, já que levam em consideração varas que são ocupadas apenas nominalmente pelos juízes, quando na verdade esses magistrados estão prestando serviços em outros locais, atendendo a convocações. “Há varas que, na prática, contam com apenas um juiz substituto, quando a lei prevê que haja um titular e outro substituto. O juiz acaba trabalhando por dois”, afirma. Assinaram o Pedido de Providências as associações de juízes federais no Rio Grande do Sul (Ajufergs), em Santa Catarina (Ajufesc), no Rio de Janeiro e Espírito Santo (Ajuferjes) e em São Paulo e Mato Grosso do Sul (Ajufesp).

O pedido se deve ao levantamento feito pelo Conselho Nacional de Justiça sobre o desempenho da Justiça Federal desde 2004. A pesquisa do CNJ faz parte do programa Justiça em Números, que anualmente faz um diagnóstico de como funciona o Judiciário. Pela primeira vez, o Conselho confronta os dados acumulados ano a ano desde 2004 e faz uma avaliação das oscilações até 2008. A quantidade de processos e de decisões é confrontada com o número de julgadores, o que mostra em que passo anda a máquina. Os números mostram que a quantidade de processos ajuizados caiu 3,3% nos últimos cinco anos. Em compensação, a produção dos juízes de primeira instância também regrediu. O número de sentenças é 7,8% menor que o apurado no início da contagem.

O desequilíbrio na distribuição de varas deu-se quando, na definição das 283 unidades que redimensionaram a Justiça Federal no país, passou a haver pressões políticas para beneficiar determinadas cidades. Pequenas cidades, sem expressão populacional, foram privilegiadas por conterrâneos ilustres e fortes politicamente. As cidades de Cruzeiro (SP), onde nasceu o então ministro Márcio Thomas Bastos, e a de Caxias (MA), cidade natal do então presidente do STJ, Edson Vidigal, foram premiadas. Outra, a de Coxim (MS) é costumeiramente lembrada pela presidente do TRF da 3ª Região, Marli Ferreira, como um lugar onde "o juiz está cansado de tanto pescar", já que o volume de apenas 300 processos não chega a cansar ninguém.

O levantamento questionado pelos juízes já foi objeto de uma reunião da cúpula do Conselho no início de julho para decidir medidas que ajudem os juízes a dar conta dos estoques. Participaram da reunião o presidente do CNJ, ministro Gilmar Mendes; o corregedor-nacional de Justiça, ministro Gilson Dipp; o secretário-geral do CNJ, o juiz Rubens Curado; o corregedor-geral da Justiça Federal, ministro Hamilton Carvalhido; e os presidentes dos cinco Tribunais Regionais Federais, desembargadores Jirair Meguerian, da 1ª Região; Paulo Espírito Santo, da 2ª Região; Marli Marques Ferreira, da 3ª Região; Vilson Darós, da 4ª Região; e Luiz Alberto Gurgel de Faria, da 5ª Região.

Em 2004, a média de sentenças dadas por cada juiz de primeira instância foi de 626. No ano passado, foi de apenas 475. O número de julgadores aumentou de 885 para 1.075. Por causa da queda no número de ajuizamentos, no entanto, a menor produtividade não provocou aumento nos estoques das varas. A taxa de congestionamento dos processos permanece em 76% desde 2004. A carga de trabalho de cada juiz chegou até mesmo a cair, de 2.635 ações para 1.985 por cada um, assim como o número de casos pendentes, que hoje é 11,2% menor do que em 2004.



No primeiro grau dos Juizados Especiais Federais, a produtividade também vem caindo, embora o número de juízes também tenha aumentado de 152 para 240. Foram dadas 1,1 milhão de sentenças em 2008 contra 1,2 milhão em 2004. O estoque de processos — casos pendentes de julgamento — saltou 42%, chegando a 979 mil, mas o número de ações novas também vem caindo. A série histórica desde 2004 mostra queda de 25,8% nos ajuizamentos.

Gabriel Wedy explica que a queda no número de decisões se deve principalmente às convocações dos juízes. Segundo ele, boa parte dos magistrados é chamada a trabalhar em funções administrativas nas presidências e corregedorias, ou como auxiliares e em mutirões nos tribunais, no Conselho da Justiça Federal e no próprio Conselho Nacional de Justiça, ficando apenas nominalmente como responsável por sua vara de origem, o que influencia nas taxas de congestionamento. “O número de convocados é alarmante. O CNJ precisa complementar o estudo”, diz.

O Pedido de Providências a ser protocolado no CNJ afirma que, “para que se possa analisar de forma criteriosa e segura a produtividade dos magistrados federais de primeiro grau é necessário que seja inserido e levado em consideração nos relatórios do CNJ a quantidade de magistrados convocados para prestar jurisdição nos Tribunais Regionais Federais das cinco regiões, no Superior Tribunal de Justiça, no Supremo Tribunal Federal, no Conselho da Justiça Federal e no próprio Conselho Nacional de Justiça”. Para isso, a associação pede que os relatórios considerem “o número de juízes federais lotados no primeiro grau que estão convocados para auxílio, jurisdicional ou administrativo, nos Tribunais Regionais Federais, Superior Tribunal de Justiça, Supremo Tribunal Federal, Conselho da Justiça Federal e Conselho Nacional de Justiça”.

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[Notícia alterada em 28 de julho, às 18h11, para acréscimo de informações.]



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