Jogos de Cartas Marcadas



Festa pelo anúncio de que o Rio de Janeiro sediará os Jogos Olímpicos de 2016! Isso depois de o Brasil ter assegurado ser o local da Copa do Mundo de futebol em 2014. Sem o bordão ‘ame-o ou deixe-o’, o ufanismo retorna fortalecido pela superação da crise econômica e pelo ‘milagre’ esportivo.

Ninguém parece estar disposto a discutir que a realização de uma Copa ou de uma Olimpíadas faz bem para o seu país. No mínimo, promove-o internacionalmente. No entanto, não é isso que está em pauta. O que se discute são prioridades. Num país de divisões sociais perversas como o Brasil, é justificável gastar tanto dinheiro na realização desses eventos, enquanto que para determinadas camadas da população falta tudo, de educação, passando por saúde, até a ausência de alimentação saudável?

Os defensores da realização desses eventos afirmam que eles garantem sensível impulso econômico aos locais onde se realizam. Basta exemplificar com as obras de infra-estrutura, as quais não seriam implementadas não fossem essas competições. Nesse aspecto, não adianta brigar com números e estatísticas. De fato, é difícil encontrar alguma cidade ou país prejudicado pelas Olimpíadas ou pela Copa. E se prejuízos existem, são largamente compensados pelos ganhos.

Mas estamos falando de países outros que não o Brasil. Aqui não podemos esquecer a disposição atávica de se levar vantagem em tudo, especialmente quando a vantagem é obtida em detrimento do patrimônio público, equivocadamente considerado por muitos como coisa de ninguém, aproveitável individualmente pelos mais espertos.

Imagine-se quanto dinheiro público será empregado para a realização desses eventos esportivos. Se adequadamente empregado, não haveria dúvida de que o Brasil ganharia. Aqueles serviços ausentes ou deficientes poderiam ser criados ou aprimorados com os ganhos decorrentes. Mas sabemos que infelizmente não é assim. Obras estimadas por um preço terminam custando o dobro, o triplo, às vezes mais. Nesses casos, não há benefícios que compensem. O Pan-Americano, por exemplo, custaria inicialmente algumas centenas de milhões de reais e acabou custando algo em torno de quatro bilhões. É muita diferença. Será que foi necessário todo esse dinheiro? Ou muita coisa escorreu pelo ralo?

É descabido desdenhar do trabalho de todos os que, pensando no bem do próprio país, se empenharam na realização desses eventos no Brasil. Os agradecimentos por essa dedicação devem se traduzir em votos de grande sucesso. Mas não nos enganemos, há muita pilantragem à solta, batendo recordes de voraz esperteza.

São precisos, portanto, mecanismos de controle efetivos e acessíveis a qualquer cidadão. Do contrário, antes mesmo de iniciarem as competições, já podemos nos considerar perdedores, a estampar no peito as medalhas de grandes patetas.

Gerson Godinho da Costa
Juiz Federal
Diretor Cultural da AJUFERGS



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