A terra, assunto de todos (I)



O título parece indicar a natural e legítima preocupação com a saúde ambiental do planeta Terra. Sem desconsiderar a relevância do tema, não é, no entanto, este o assunto a ser aqui tratado. O enfoque ao termo “terra” é diferente, mas nem por isso menos importante. Diz com a sua distribuição e aproveitamento, o que, em última análise, dependendo dos usos aplicados, também apresenta nítidas conseqüências no plano ambiental.

A maior parte da população, residente nas zonas urbanas, encaram as questões rurais como alheias a sua realidade, situação que configura grave equívoco. A questão agrária interessa a todos. No mínimo, o alimento que consumimos diariamente está relacionado à produção no campo. É um assunto, portanto, universal.

Por conta da otimização da produção industrial, muitos compreendem essa mecânica como perfeitamente aplicável à produção rural. Como naquela a concentração, em tese, permite maior volume de produção e, em conseqüência, preços mais acessíveis, somos conduzidos à conclusão de que, também no campo, a concentração da terra e da tecnologia disponível permitiria a produção em maior escala, assegurando o acesso de um maior número de pessoas ao que foi produzido. Isso tudo além de garantir maior competitividade no que diz respeito ao comércio internacional, permitindo a manutenção de um círculo de aprimoramento e capitalização.

Como se sabe, inverdades ou verdades parciais quando repetidas e não contestadas acabam por se tornar verdades incontestáveis. E se eventualmente alguém tem a pretensão de discutir esses assuntos é naturalmente qualificado de ideológico, para o bem ou para o mal, dependendo do ponto de vista dos interessados. Pois é preciso imediatamente discutir essas questões em termos objetivos, tanto quanto possível apartado das emoções e valores diretamente envolvidos, o mais próximo da isenção que releve as vantagens a serem obtidas por todos e não por alguns poucos.

A propósito, dados do Censo Agropecuário 2006, elaborado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, autorizam concluir que o setor mais produtivo na área rural é o da agricultura familiar, desmistificando a idéia de que o chamado ‘agrobusiness’ é a formula mágica ou solução dos problemas relacionados à questão agrária.

Embora ocupando área equivalente a um quarto daquela destinada à produção rural, a agricultura familiar é responsável por 38% do valor total da produção. Produz 70% do feijão, 87% da mandioca, 58% do leite e 46% do milho, entre os produtos consumidos pela população. Mais. Ela emprega 75% do total da mão de obra no campo.

Gerson Godinho da Costa
Juiz Federal
Diretor Cultural da AJUFERGS



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