O duro jogo da democracia



A democracia não é um jogo fácil. Rousseau escreveu algo assim há cerca de 200 anos. E olha que ele era um dos maiores defensores das ideias democráticas.

Ter o poder de escolher quem nos governa é algo de valor inestimável. Como demonstra a História, ter um general ou qualquer outro tipo de tiranete decidindo "o que é bom para nós" em geral não dá muito certo. Na jovem democracia brasileira, porém, parece que ainda há muitas lições a serem aprendidas. A cada nova eleição somos confrontados com novos desafios, que exigem tanto das instituições quanto dos eleitores respostas condizentes com a responsabilidade de um povo que tem em suas mãos o próprio destino.

Nessa eleição temos assistido a um Presidente da República empenhando todos os seus esforços - assim como os da máquina pública - para eleger o seu sucessor. O custo disso é muito alto para o país. E não apenas em termos institucionais, mas principalmente em termos de recursos, pois são necessários milhões de reais para custear durante meses uma espécie de campanha publicitária permanente do Governo Federal para alavancar a candidatura oficial. Esse dinheiro não sai do bolso dos políticos, dos respectivos partidos ou de outros interessados na eleição de determinado candidato, mas do suado dinheiro pago pelo contribuinte. Por maior que seja o seu apoio popular, um chefe de Estado não pode abandonar sua função para atuar como uma espécie de "cabo eleitoral" - papel que tem publicamente afirmado desempenhar. Se fizesse isso às suas próprias custas já seria ruim. Mas fazê-lo à custa de dinheiro público é um absurdo, para dizer o mínimo.

Outro aspecto interessante dessas eleições é que apesar de todos os esforços para conscientização do eleitor e da inédita quantidade de informações disponíveis sobre os candidatos, protagonistas dos mais diversos escândalos da política nacional foram aclamados pelas urnas como legítimos "representantes do povo". Calheiros, Sarney (a filha), mensaleiros, o homem da cueca do PT (segundo mais votado para deputado federal no Estado do Ceará) e outros que estão se lixando para a opinião pública se elegeram com expressivas votações. Isso, é claro, sem falar no Tiririca. Tudo por escolha do povo.

Nossas instituições não são nenhuma maravilha. Mas vamos reconhecer que o eleitor também não (se) ajuda.

Gueverson Farias
Juiz Federal



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