E depois...



Terminou o processo eleitoral. Votamos e elegemos alguns dos candidatos. Embora indispensável o ato formal da posse, fato é que já temos nova presidenta, novo governador e novas composições no Senado, na Câmara e nas assembléias estaduais.

Sejam ou não nossos preferidos, independentemente das nossas ideologias, fato é que os eleitos merecem, no mínimo, nosso respeito. Vivemos numa sociedade plural, onde é praticamente impossível agradar a todos os interesses de forma integral e algumas concepções naturalmente serão prejudicadas. É do jogo político eleitoral. E daqui a dois anos haverá mais. Entretanto, o que se encerrou foi o processo eleitoral. Não foi a participação democrática. Esta é permanente, contínua, constante. Se assim não for, de democracia não se trata, mas de um mero arremedo. Não basta, pois, que nos consideremos satisfeitos e sentemos inertes aguardando as próximas eleições.

É preciso prosseguir na participação política, para a qual há diversas formas. A crítica é uma delas. Não a crítica vingativa, golpista ou preconceituosa, cujo objetivo é o de apenas exterminar os interesses adversários. Válida é a crítica construtiva, aquela disposta a contribuir. E havendo esse propósito subjacente, por certo os criticados devem estar dispostos a aceitá-la. Do contrário estaremos diante de posturas antidemocráticas, pouco ou nada dispostas ao diálogo. Assim, com relação aos eleitos é salutar que suas ações, sob esse viés contributivo, sejam criticadas e que, além disso, estejam dispostos a aceitar essas críticas. Delas podem surgir caminhos interessantes em busca do bem estar comum.

Há muitos aspectos do governo federal que se encerra que merecem críticas. Porém são inegáveis alguns avanços obtidos. O mais significativo talvez seja o ingresso de milhões de brasileiros em padrões sociais antes impensados. Um salário mínimo pode não significar muito para certas pessoas, porque talvez gastem o equivalente num jantar. Mas para grande parte dos brasileiros é o bastante para inclusive assegurar-lhes um pouco de dignidade. O programa em questão não apenas pode como deve evoluir. Mas a afirmação de que se trata de uma medida demagógica, sem qualquer contribuição para superar a grave questão da pobreza, parece simplesmente relegar o problema a uma questão circunstancial que não merece estar na pauta da nação.

A referência à corrupção, desacompanhada de qualquer proposta concreta no intuito de combatê-la, é outro exemplo de crítica vazia. Há quem esqueça que nossa história está profundamente marcada por essa enfermidade. Não surgiu com o governo atual, o que tampouco sugere que o problema seja relativizado e encarado como algo aceitável. Sugestões sobre medidas aptas visando o controle da corrupção são bem-vindas. De discursos fortes e inflamados, no mais banhados de retórica desacompanhada de qualquer efeito prático, já dispomos o bastante.

Esses dois singelos exemplos relacionados à inclusão social e à corrupção demonstram o quanto o país precisa evoluir para ser considerado efetivamente um estado democrático de direito. Mas é preciso discuti-los de forma desapaixonada, independentemente da coloração partidária, buscando a construção de algo realmente melhor. A República agradece.

Gerson Godinho da Costa
Juiz Federal
Vice-Presidente Cultural e da ESMAFE



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