Entre o público e o privado



O Ministro Chefe da Casa Civil, Antônio Palocci, acha que não deve explicações sobre a extraordinária evolução experimentada pelo seu patrimônio nos últimos anos. Ele está errado.

De acordo com matéria publicada pelo jornal Folha de São Paulo no último domingo, Palocci teria multiplicado seu patrimônio em 20 vezes no curto espaço de 4 anos. Tal aumento patrimonial do ex-Ministro da Fazenda do Governo Lula coincide com o período em que ele exerceu mandato de deputado federal e trabalhou como tesoureiro da campanha da Presidente Dilma Roussef (2006 a 2010).

É certo que aumentar o próprio patrimônio não é crime, nem mesmo quando isso se dá de uma forma tão espetacular como ocorreu com Palocci. Porém nada é de graça, e se a sua empresa de consultoria fez tanto sucesso foi no mínimo em razão da "experiência única" adquirida quando Ministro da Fazenda, como admitiu em nota o próprio Palocci. Em que consiste especificamente a consultoria prestada pelo então deputado e ex-Ministro e quais são as empresas que pagaram tanto por tal serviço (em 2010, seu faturamento teria sido de R$ 20 milhões) são questões que precisam ser esclarecidas ao público. É preciso dizer que tipo de informação ou aconselhamento eram dados por essa empresa, não sendo demais lembrar que o escândalo que derrubou Palocci do Governo Lula teve como origem a revelação de seus encontros com lobistas em uma casa no Lago Sul de Brasília (Caso Francenildo).

Enquanto o Ministro se esquiva de dar respostas mais consistentes, uma legião de acólitos em busca de benesses do Richelieu do Governo Dilma trabalha para blindá-lo e os órgãos que deveriam investigar dizem que não é o caso, a imprensa segue seu trabalho: a Folha de São Paulo desta sexta-feira apurou que uma das clientes de Palocci lucrou nada menos que R$ 1,3 bilhão fechados com o Governo Federal entre 2006 e 2010.

A fronteira entre público e privado sempre foi tênue no Brasil. Como bem descreveu Raymundo Faoro em "Os Donos do Poder" nossa história de apropriação do patrimônio público por particulares remonta a Portugal. Da dinastia de Avis aos novos donos do poder, só mudaram as roupas e a época, pois as práticas continuam as mesmas.

Gueverson Farias Juiz Federal



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